Mãe(s)
Por cada lado que passo deixo um pouco de ti, material e emocional. Parecendo-me que se me desapegar a tudo o que recebi de ti finalmente irei me desapegar emocionalmente, desta tortura que é ser tua filha.
Nunca irei entender tanta dor, tanto desgaste no meu coração. Será que quero mesmo lembrar-me de tudo ? Ou é melhor a continuar a dormir...
A dormir...
Enfim, ainda assim vou-o fazendo lentamente, deixar cada pedaço teu por onde passo.
Dou por mim a pensar se o deveria fazer relativamente a outras pessoas, ou seria já o meu ego a falar mais alto, ficava sem nada.
O materialismo.
Com a minha mãe foi sempre uma constante, e, apesar de diferente em muitos aspectos deparei-me com outra mãe assim na minha vida.
Sinto muitas vezes que tenho duas mães e como é doentio de certa maneira ter sido quase que adoptada financeiramente e emocionalmente aos 23 anos. Mas senti tanto amor, tanta preocupação, tanta atenção.
Não sabia o que era isso de maneira carinhosa, sem autoridade ou controlo e punição. Só que os presentes não são o mesmo que estar presente.
Manter em segredo algo que não entendo é frustrante e sentir que não me dizem tudo é pior ainda.
Não tenho qualquer arrependimento quanto à minha primeira mãe, gostava sim de a ter conhecido com a minha idade e ajudar da melhor maneira.
Quero muito perdoar o que não consigo entender quando a única coisa que sei é como não estou mal quando não estou com ela por perto, antes pelo contrário, por muito duro que seja.
A minha segunda mãe eu ainda não entendo, sinto uma dívida enorme por tudo o que fez por mim, sinto raiva e pouca empatia pela minha verdade e vontade.
Não sou perfeita e sei que ninguém o é, mas pelo menos tento ser melhor até quando não o sou.
Para mim, reconhecer sequer todo o meu espectro é surreal e torna-se numa bola gigante na garganta. Emocionalmente estou destruída mas não acabada, vejo-me como um puzzle que precisa de ser montado mas é de 5000 peças.
Queria que fossem mais verdadeiros comigo ou pelo menos me fizessem sentir isso.
Sentir.
Deixem-me ser quem sou, como sou, deixem-me sentir.
Estou a fazer o meu melhor mesmo no meu pior, sou uma lutadora sejam quais forem as razões, sou e quando me sinto ameaçada fujo.
A primeira levou-me 17 anos. E não consigo sequer descrever o que senti ...Mãe(s).
Patrícia
sábado, 12 de fevereiro de 2022
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