Um café por favor

Hoje o tempo está solarento, nem muito frio nem muito calor, perfeito diria, para um dia de Dezembro.
Já tenho o meu filho comigo em casa assim que nestes dias tenho uma rotina um pouco diferente mas isso não quer dizer que desista da minha 'quest' para um eu melhor, portanto peguei em mim e no Sassá e viemos ao café.
Fiz uma mochila em casa onde coloquei o meu pc e uma revista da National Geografic que é apenas do que preciso hoje, sentei-me e pedi: 'um café por favor'.
E este café tem muito mais que apenas liquido em forma de energia, hoje, este café é a companhia neste meu texto.
Levamos abanões da vida que fazem parte do ciclo natural, é assim que crescemos e aprendemos, é assim que caímos e por vezes demoramos a levantarmo-nos. Digo muitas vezes que é normal, e é. Mais um vez digo-o por que realmente é normal, faz parte do que chamamos viver. Temos de cair para nos levantarmos e é assim que crescemos e muitas vezes mudamos o nosso comportamento.

Essa analise interior nem sempre é bem vinda, é mais fácil ignorarmos os avisos que a nossa cabeça nos vai dando e pensar que talvez... talvez o trambolhão seja menor da próxima vez.
Mas faz muitos anos que repito os trambolhões e já está na hora de realmente mudar algo, não apenas por mim mas também pelo meu filho que, apesar de ainda ser muito novinho e não se aperceber o que se passa ele já sente.
E sente quando a mãe dele não está bem, eles sentem sempre. Eu posso não me lembrar dos sorrisos existentes até aos 5 anos mas acreditem que fiquei com memórias de bastante mais nova que vai sempre fazer parte de mim, onde muitas vezes me questiono se realmente aconteceram.
Mais que memórias visuais tenho em mim o sentimento de tristeza associado a essas memórias, uma frustração aliada ao facto de não entender o porquê, de nada. Lembro-me de não entender o porquê das situações e lidar com isso de uma maneira que apenas uma criança acha que pode lidar.
Como não consigo suportar sequer que possa o D. passar por isso ou sentir algo semelhante ao que senti, olho para mim e sei que tenho mesmo de fazer algumas mudanças.

Olhar-me ao espelho e dizer palavras de força pode ajudar mas não é o suficiente, eu tenho de realmente ouvir o que estou a dizer e fazer algo enquanto é tempo.
Comecei hoje uma lista de coisas que tenho de retirar da minha vida, algumas já andava a resolver, outras finalmente coloquei um termino. Consegui finalmente resolver algumas preocupações que me assombravam e ninguém mais é culpado por elas, fui eu que me coloquei em tal posição, sou eu que devo resolver.

Um café por favor pedi eu, enquanto escrevia senti que estas palavras estavam guardadas faz tempo dentro de mim e que por alguma razão eu decidi ignorar.
Pensei na manhã de hoje, foi uma manhã pesada. Partilhei sentimentos, levei um abanão daqueles que ninguém gosta de levar e de seguida senti a perda de outra mãe.
Uma mãe que tratava da mota do filho dela depois de um acidente que o colocou em coma. Nenhuma mãe deveria passar por isso, disse-lhe enquanto a abraçava. 
Pensei no que faria eu se algo assim me acontecesse e depois lembrei-me de alguém que anda de mota e quis muito que essa pessoa tivesse de carro hoje.
Fui para casa com o coração atordoado, senti um silencio terrível onde conseguia ouvir tão bem os meus pensamentos que a sensação que tinha era que alguém gritava perto de mim.
Lembrei-me do peso nos meus braços quando pegava o meu filho ainda muito bebésinho, não me perguntem porquê mas quase senti que estava com ele ao colo.
Tinha uma cadeira de embalar quando ele nasceu, foram muitas as noites em que o embalei assim e aquele sentimento de agarrar algo feito com o nosso amor era agora o que segurava no coração, para sempre. Ainda hoje o meu mundo derrete quando abraço o meu filho e ele fica quietinho, a absorver todo o amor que a mãe dele tem para lhe dar.
Curioso como podemos ter pensamentos tão dispares uns dos outros, cheios de emoção e ligados por algo mais que simples entendimento.

Hoje, enquanto bebo o meu café penso sobre o que escrevo, leio o que penso e dou conta que preciso de muitos mais cafés, porque as palavras são infinitas e o que sinto também.


Patrícia Serra




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