Ups, i dit it again !

Eu escrevia muito, tive anos da minha vida que escrevi praticamente diariamente, fiz blogs, apaguei blogs, escrevi e publiquei, escrevi para nunca publicar.
Talvez fosse demasiado importante o que poderiam pensar de mim, mostrar-me demasiado vulnerável...não sei.
O que sei é que os últimos post's foram em 2017, novamente, uns apaguei outros deixei. E, apesar de continuar a ser a mesma pessoa que era com 26 anos, sou também uma pessoa muito diferente.
Escrevo porque quero e não me importa quem lê ou deixa de ler. Faz-me bem escrever e exteriorizar o que sinto, é terapêutico diria.
E, claro, ninguém vai sentir exactamente o que estou a sentir e muito menos sofrer 'as minhas dores' assim que me estou bem a cagar se o que escrevo a partir de hoje agrada a alguém.
Sou apenas mais um pessoa num mundo cheio de pessoas que reprimiu durante bastante tempo coisas simples como escrever e passou tempo demais a olhar para um feed de Instagram.

Deixei de escrever quando fui mãe, não propriamente porque fui mãe mas porque aconteceu uma série de acontecimentos onde eu não era importante, onde contava mais transmitir o que sinto a quem me ama do que tentar uma terapia de escrita emocional.
O que me levou a voltar à escrita foi, ironicamente, uma serie de novos acontecimentos. Viver é isto mesmo, acontecem coisas a toda a hora.
É sinal que estamos vivos, sentimos e esperneamos com tudo o que se passa à nossa volta.

No dia 17 de Novembro de 2019, perdi o meu cão Marley, o que para muitas pessoas será algo do género : 'sim, e depois? move on!'.
Para mim, ainda muito recente, foi um luto. Um luto que quero fazer, uma perda que me afectou de uma maneira que não pensava ser possível.
Ando numa especie de limbo.

Estou sem paciência para determinadas questões e a primeira coisa que penso é: mando esta pessoa à merda ou ela acaba por ir sozinha?! Acabo por me calar, o silêncio vale ouro, não vale a pena gastar energia com algo que por si só já é uma perda de tempo. E esse, esse vale muito mais que o silencio ou outra coisa qualquer. Nunca temos tempo para nada até realmente deixarmos de o ter e é apenas triste como colocamos a nossa vida muitas vezes em segundo plano.

Muito recentemente sofri/sofro um desgosto amoroso e foi também isso que me levou a abrir o meu blog ao fim de tantos anos. Preciso exteriorizar de alguma maneira o que sinto sem que haja por aí um corpo a flutuar no rio Tejo (just kidding) .
O meu Pai diz que quando se ama mesmo pode-se morrer de amor (ou seria por falta dele ? ), é um romântico este meu Pai, sempre foi.
Mas também é uma pessoa com que posso conversar de praticamente tudo, algumas coisas só lhe digo quando já não existe mais nada a fazer, receio talvez? esperança de conseguir resolver sozinha? Não sei.

Olho para as coisas de maneira pouco pragmática, sendo de facto mais reactiva, de uma maneira geral o que sinto é o que digo e tento sempre resolver as coisas no imediato sem medir muito bem as consequências. Sou também uma romântica que acredita que o amor deve ser gentil, deve fazer-te sentir que tens ali uma pessoa pronta para matar alguém contigo, cavar um buraco e levar esse segredo para todo o sempre (dark humor) e que no mesmo instante estará contigo no melhor dia da tua vida.
Acredito que todos temos bagagens emocionais com as quais temos de lidar e acima de tudo tentar que as pessoas que nos acompanham não sofram com isso. Sou apologista que quem ama não desiste, não vira as costas.
Mas nem sempre é assim, aliás, a maioria das vezes o mais fácil é virar costas. Porque não há cu que aguente estar a aturar os problemas dos outros. !
Então funcionamos assim desde que começamos uma relação, não existe confiança logo no inicio. Os meus problemas são os meus problemas, e os teus, teus! deal with it !
E eu acredito que os problemas de um são os problemas de ambos, que quando eu tiver na merda essa pessoa vai estar até ao fim porque eu farei igual. No matter what.

O que podes fazer quando te viram costas?

Aceitar.
Ninguém obriga ninguém a estar ( se obrigarem, foge, não é de todo aceitável), temos ambos o poder de decidir o que fazer com o que sentimos, como isso pode, ou não, influenciar a nossa vida.

E está tudo bem, mesmo quando nada está bem. Porque términos são normais, porque amar é normal.
Lidar com isso depende também muito de quem te rodeia e acima de tudo a maneira como vês de cima o que realmente foi. O que foi para ti? Valeria a pena continuar ? Imaginaria a minha vida sem essa pessoa?
Deves-te a ti próprio uma analise real, acima de tudo, sobre o que sentes e como isso te faz sentir.
E hoje posso ter um dia de merda e amanhã nem sequer pensar nisso. Mas para mim o amor deve ser gentil, deve ser cuidado e como uma planta, regado todos os dias. Se abusares da água ou não colocares água suficiente haverá sempre consequências, cabe a cada um lidar com essas mesmas consequências.
Eu estou a escrever para também lidar com essas consequências, devo a mim mesma tempo para me organizar, a minha vida não é mais apenas minha.
É agora do meu filho também que depende de mim e esse sim é um amor gentil, diferente claro, mas que não me falte amor e eu encontrarei tudo o que preciso.
Neste momento preciso de mim. De lidar com a frustração que se gera quando alguém se vai embora, lidar com qualquer sentimento mais reactivo que possa ter e... bem... por agora, escrever sobre isso.

Hoje é tudo. Confuso ou não, escrevi e soube-me muito bem, quase como uma paz temporária em ler o que sinto, o que posso fazer em relação a isso e o que nunca depende apenas de nós.
-> Marley sinto muito a tua falta, choro praticamente todos os dias, principalmente quando ninguém está a ver e todos já dormem.
Sei que vai começar a doer menos e menos até ser apenas saudade do melhor cão que tive. Por agora o meu limbo anda neste mix de dores sentimentais. Mas para ser honesta dói-me muito mais o que sei que nunca mais vou ver. Talvez seja por ser tudo ao mesmo tempo mas quase que é ridículo sofrer uma perda que não aconteceu, porque essa pessoa continua viva.
No momento sofro mais pelo que nunca mais vou ver, tocar e cheirar. No momento dói mais a perda absoluta quando comparada à mediocridade humana por falta de compromisso.

E está tudo bem.

Patrícia Serra











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