Saudade

É uma palavra linda não é?
provavelmente o que o ser humano sente mais durante a sua vida é, saudade. Intraduzível e tão só.
Em latim significa solidão. Deve ser porque quando sentimos saudades de alguém nos sentimos sós?
Não sei. Nem sempre estou só mas sinto uma saudade imensa, de pessoas e momentos.
Escolhi na maioria dos casos, se não todos, ser eu quem virava as costas. Seria de prever então que não sentisse coisa alguma passado tantos anos.
A nostalgia é uma merda e normalmente vem acompanhada de acessos fortuitos a pastas mais antigas do disco externo, de livros com dedicatórias... o meu problema é guardar.
Sempre guardei tudo o que me pudesse dar memória, como se quisesse eu ter algo que me relembrasse o que passei e com quem passei. Funcionou, funciona sempre. Um dia hei-de não saber onde estou, quem sou, mas espero saber a que memórias cada carta pertence.
Seria genuinamente agradável poder lembrar-me apenas de coisas boas...
Existe uma pessoa em especial de quem eu sinto muito a falta. E fui eu quem decidiu que estava na hora de virar a cara mas já antes tinha sentido que não era mais a pessoa querida, desejada e amiga.
Só não posso ignorar o que fez por mim, no que me tornou e no quanto eu procurei vezes e vezes sem conta o seu abraço. Tenho a certeza absoluta que eu não seria a mesma pessoa que sou hoje se não fosse ele. Foi mais que um amigo, senti imensas vezes que amor seria a palavra mais certa.
Senti amor, senti as suas dores e ele as minhas. Oh as dores dele, tão pesadas... o fardo que ele carregava era mais do que qualquer ser humano merecia suportar, sei que desesperou e talvez nem fui eu quem procurou para abraçar, em todo o caso qualquer dor dele seria a minha.
Se pudesse tinha sido mãe dele. Tinha lhe dito que ele era lindo, como ele é e que podia fazer da sua vida o que quisesse que eu faria tudo para que ele fosse feliz.
Não iria precisar de chamar atenções de ninguém, não iria ter traumas enclausurados como se de um elevador não conseguíssemos sair.
Mesmo assim, deste-me o máximo que podias. Encontras-te o teu amor, o teu companheiro e fizeste da tua vida finalmente algo parecido ao que quererias.
Não sei nada de ti desde então, por vezes vejo algo teu mas nada que me indique como estás, como te sentes. Passei os piores momentos contigo, não que os causasses, apenas estavas lá quando mais ninguém estava.
Sempre foste demasiado critico, olho agora de uma perspectiva mais alta e noto que me avaliavas de uma maneira nem sempre fácil de digerir, querias-me bem e não tinhas receio do dito ser algo que me ficasse.
Nunca mostraste completamente o teu lado, sei disso, sinto-o nos meus ossos. Nunca conheci tanto de ti como tu de mim. Algumas partes modificadas, outras escondidas. Mas aceitei-te. Eras aceite por mim e nunca interferi com o que gostavas de fazer ou como o gostavas de fazer.
Ainda assim, sinto tanto a tua falta. Tu és arte. Tu deste-me arte. Parte de ti. Parte de tudo o que tinhas.
Mas nem sempre foi assim. E para o fim eu não era mais nada.
Eu não fui mais nada para ti.
É uma merda sentirmos falta de alguém que nunca mais vamos ver, ou se por acaso, nos cruzarmos, sei que viraremos ambos as faces.
Saudade. Que palavra bonita.
E tão triste.

SGR (serginho )

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Como não esquecer ?

Mãe(s)

Fecha-se uma porta e abrem-se umas quantas Janelas